domingo, 24 de agosto de 2014

PEROLÁRIO


       



  Luiz Martins da Silva

Viver época de partilha,
Dádivas soltas web afora.
É só lançar-se na rede
E fartar-se de tesouros.

Rescaldo de outras ondas,
Beatles e Stones bem jovens.
Ou a concha do último selfie,
Cornucópia de narcisos.

Era um coreto art déco,
Numa infância nacarada.
Ray Charles gemia na tarde:
I can't stop lovin you.

E eu, que nunca parei

Nem de amar, nem de ouvir,
Vivo à farta de imagens,
Melodias a curtir.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O MAR E A SECA


Luiz Martins da Silva



Em sendo o oceano um aceiro
De suor seco em vidraça,
O delírio se faz saga
De um azul-cobalto fugaz.


Céu, prumo de marinheiro,
Lágrimas de pó e sal,
Viver longe de uma praia,
Diminutivo de dunas.


Crimes de ar e incenso,
Queima de fogos malsã.
Crematório de crepúsculo,
Câmara de seres ardentes.


Velas a palo seco
De brumas imaginárias.
Cerrado, saara remoto,
Vagas de ilusória névoa.


Distante aldeia tórrida,
De casario em torpor.
O oceano é quase ali
Na orla de um lago só.

domingo, 10 de agosto de 2014

SER PAI



Luiz Martins da Silva


Ser pai é ser mais
Que um simples ser;
É ser mais que um ente,
Genética para além de gente.

Ser pai é ser um outro ser;
É ser e estar num certo estado
De Deus na Terra
Guardeando sementes.

Ser pai é dormir na fila do Céu
Para guardar vagas dos filhos;
Para lhes garantir matrícula
No Liceu do Caráter.

Ser pai é ciência do acerto
Do que é certo para os seus.
Ser pai é ser antes de tudo pão,
Mesmo suado em searas agras.

Ser pai é ser quase um doce,
Que por vezes só se sabe
Quando o saber chega tarde,
Numa tarde quase noite.

domingo, 3 de agosto de 2014

SOBRE GAZA



LUIZ MARTINS DA SILVA



Sobre Gaza hão de nascer rosas,
Sanguíneas alegorias da Pátria,
Hoje ceifadas, tão caule,
Da alegria dos pais,
Patéticas mãos para o céu.

Sobre Gaza, hão de nascer pães,
Fermento de gerações,
Pólens de sorrir mães.
um dia sem dores:
Flores , beleza e perdões.


Gaza ainda será verbo,
Este, de conjugar paz,
Mesmo memórias de cinzas,
Artilharia de escombros,
Êxtase de malvados,

Não germinará nenhuma honra
De um panteão de tormentos,
Quem irá saudar heróis
Campeões olímpicos no abate
De inocentes, civis e crianças?

Pássaros, hoje afugentados,
Saberão reconstruir ninhos.
Dos ímpios tenho dúvidas
Se hão de ungir louros
Nas sendas do enxofre.



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