domingo, 4 de outubro de 2015

ESCOLA DE FLORES


LUIZ MARTINS DA SILVA



Nada contra, mas vivo

Numa cidade de escalas

E flores civilizadas.

Envergonha-me não sabê-las

E conversar com temores

De serem bravas ou travos

Sem apelidos populares.




Intimidades, sim,

Mas, conivências botânicas,

Currículo de paisagistas.

Mesmo assim, me apresento

Reverencio seus santos

De nomes ocultos e cantos,

Tantos sãos os seus hóspedes.




Oração da árvore desconhecida.

Outro dia, vi numa fachada:

“Igreja do Caminho das Árvores”.

Para quem sobrevive no asfalto!

Sombra e algum sobressalto

Face a fragrâncias e roupagens.




Em se plantando tudo deu.

Desde quem da Índia veio,

China, Malásia, Molucas,

Cravo, canela, espatódea…

Terra de todos os verdes:
Brasil, vegetal Brasília.

sábado, 12 de setembro de 2015

VIVER IPÊS






Luiz Martins da Silva


A vida em ipês.

A hora e a vez.


Você está aqui,

Tapete do Paraíso.

Deus manda recados.

Por vezes, abelhas,

Lendo cores e aromas:

Rosa, amarelo, branco…

À beira do caminho,

Não se precipite,

Não se deprima,

Cair é com as flores.

Acorde e bênção:

Dos quatro elementos,

Você não é plasma,

Ainda que Luz.

Viagem suprema,

Mochileiro do Infinito.

Você é feliz,

Nem carece aditivos.

Seja você

Viva os ipês.


E se mais alguém a florir

É polinizar de essências.


fotografia- Rubens Craveiro, um ipê da 216 norte

domingo, 6 de setembro de 2015

OLHOS MAREJADOS








LUIZ MARTINS DA SILVA






Olhos são sempre marés

Para o Éden nosso de cada dia.

Sublimações etéreas, mesmo quando o horror

Nos subjuga em direto para as masmorras

Dos imaginários patéticos.



A criança morta, oferecida pelas ondas,

Agora, dorme comigo.

Acordo, e ela está no meu leito,

Por acaso confundindo o meu aconchego

Com o regato e o mimo de seus pais.



Os corpos dos meus irmãos boiando,

Na noite da superlua, “30 por cento mais visível”!

Oh! Quanto que inútil saber de oceanos numa lua de Saturno!

Por aqui, Saturno devora os seus filhos como num quadro de Dante,

Enquanto os discursos transferem midiáticos apelos de piedade.



Hoje, será mais uma noite de burburinhos e rastreamentos:

Fechem as fronteiras! Blindem todas as entradas!

Sanguinários e coiotes espalham tiros e gargalhadas,

Eles se acham na pretensão apocalíptica dos profetas

Que escolhem os eleitos na mira do fuzil.



Anomias, anomalias, sociopatias!

Serei eu um alienado uivando, primal, para superlua?

E ainda na aurora me surpreenderei com um botão de orquídea?

Perdão para os meus olhos, mal acostumados a belezas.

Mas, há uma criança morta rondando o que tenho de ninho.

sábado, 29 de agosto de 2015

A GOSTO MUSICAL


LUIZ MARTINS DA SILVA
 

Quase acreditava
Ser anúncio real,
Crepitar de pingos.
Cervejas se anunciam,
Mas, não me digam:
Bebem mulheres?
Mi
Hoje, arrepios,
Não era coruja.
Buraqueira na estrada.
Flores, sim, campestres.
Não mais campari.
Nem nos bares.
Sol
Os aviões sumiram
Com toda uma ala,
Náufragos fumantes.
Boa, fé; ma fé; boa fé…
Comandantes sabem:
Há soldados estúpidos.
Si
Existiria um país
Sem moto-serra
E sem agrotóxicos.
Bem me quer; bem me quer.
Fora do espelho,
Alguém jasmim.

domingo, 9 de agosto de 2015

PAI




 LUIZ MARTINS DA SILVA



Cristo não o foi.

Ou, pelo menos está escrito.

Prá lá da literatura, Madalena.

Ser pai é mais que novena,

É o sono quase dormido, tão presente

E tão ideal quanto a Nebulosa de Magalhães.





Haverá sempre uma chama acesa,

Ainda que sobre o gelo das estepes

Ou até no morro dos ventos uivantes.

Na mais humilde cabana haverá um Pai Tomás.

Ou pode ser também na invisível catedral,

Sanctum ou Ashram, aos pés de Khrisna.





Oh! Hare, Hare! Banal e raro.

Ser pai, eu o soube, antes de o saber.

Foi de um comunista [hoje, não mais].

Pois, esse ex-, quis o desatino,

O filho do ateu era devoto.

Saiu aos mantras e aos incensos.





Internou-se numa comuna mística.

O pai quase pirou, aliás, como todos.

Filhos! Até o poetinha quis tê-los, para sabê-los.

O Pai, de tudo e de todos, até de si próprio,

Delegou aos daqui missão intransitiva:

Quem é pai há de se rever, no tardio filho.





Hoje, quem não mais o tem,

Nem por astro, nem padrasto,

Há de ser pródigo, papo cabeça.

Cadê o velho que estava aqui?

Orações que o valham, pois:

O Pai Nosso pode estar no Céu.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

DUNAS INTANGÍVEIS











Luiz Martins da Silva


Nenhum vândalo irá depredar
O halo de sândalo de tua silhueta.
Nenhum pichador irá macular
Os vaga-lumes de tuas lembranças.

Nenhum incendiário coquetel
Irá molestar a tua aura de Shiva,
Pousada no breve remanso da noite,
Sob a lua prateada do tuaregue.

Estou velho. Meus cabelos, ralos.
A um amigo desiludido, minha teima:
Outra vez as pétalas dos ipês brancos
Não vieram desbotadas.

Hoje, posso dizer, estou ciente
Disto que ora insiste pelo nome.
Dor quem sente não é o corpo
É só a alma galgando degraus.

Logo, logo, esta lua impermanente
Irá de novo se vestir de nevoeiros.
Mal chegamos à fase do namoro
E a vida já me pediu em casamento.

domingo, 31 de maio de 2015

LAMPEDUSA À VISTA




  Luiz Martins da Silva

Eles salvam baleias, não salvam? 
Também as nossas famílias 
Agonizam sobre as ondas.
Eles irão nos acolher.

Um dia, também vieram 
Acostar-se em nossas praias. 
Tanto tempo nossas terras 
Repartidas em colônias. 

Fazem parte de uma União. 
Também queremos unir-nos 
Aos que um dia nos ungiram
 No aceno de fé e oração.

Também teremos direitos, 
Universais, consagrados? 
Golfinhos talvez entendam 
O que estar à deriva.

Eles recolhem das águas 
Tanta riqueza perene. 
Reconhecem na paisagem 
Crianças, mulheres, homens? 
  
 Lampedusa, meu amor
 Não me sejas Hiroshima.
 Pois já diviso teus braços. 
Tua areia, meu destino.

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