domingo, 23 de setembro de 2018

CHUVA DO CAJU


Luiz Martins da Silva


Todo ano há garantia
De fruta com chuva própria
Se as flores apontam vingas,
Não tardam os primeiros pingos.


Cajuzinho do Cerrado,
Depois de muito braseiro,
Exibe confiante, certas
Intuições de aguaceiros.


Chamam de cio da Terra,
Este instinto bem verdinho
De se ter hora marcada,
Compromisso de noivado.


Céu e Terra de acordo,
Logo, logo, um arco-íris
Será prova renovada:
Der paz entre homens e Deus.


Pintura- Adriano Santori

NEPAL, NEPAIS



Luiz Martins da Silva

Ai, de ti, Nepal,
Logo, tu e os teus,
Na reverência aos budas,
Cerimonial de escombros.

Imaginei e indaguei,
Por que não eu,
Vivente errante, filisteu,
Certamente, indigno.

O mundo acode a ti
E aos teus em compaixão,
Hoje, toneladas em aviões,
Amanhã, tuas crianças, quem dera.

Tão cedo monges,
Tão cedo sutras,
Récitas de agradecimento,
Mesmo ao terremoto.

Moto contínuo, perpétuo,
Não sendo aqui o Nirvana,
Tudo ilusão, segue o mantra,
Mas, é mais que nosso umbigo.

Obrigado, Deus, ao Nepal,
Obrigado Deus pelos amigos,
Obrigado, Deus pelos antepassados,
Obrigado, Deus por sermos filhos teus.

domingo, 2 de setembro de 2018

FOLHAS AO CHÃO

( fotografia Danae Stratou,do site www.namu.com.br)


Luiz Martins da Silva


Esquinas avançam.
Algumas, é sério, soluçam.
Degraus, um a um,
Esperam a sua vez
Nas dobras do lá
.

Não há nota perdida.
Pessoas e melodias marcam.
São pétalas secas.
Papel-bíblia de orquídeas,
Salmos para reverências.

Hoje, não me saúdem.
Prefiro um estádio de vaias.
O feio dos tentos não feitos.
Anotem em cartões
Cada falta que fizemos.

A gente dá meia-volta;
Corridinha disfarçada;
Ponta de riso amarelo.
Foi mal não ter estado atento
Quando você mais se lembrou.

Ora,pois,festejemos. 
Agora, cada minuto 
Pois a espiral da elipse
Gastou o luxo dos lapsos. 
Restaram  as rugas, relógio de sol.

ASSOVIO NO ESCURO







Luiz Martins da Silva


De verdade,de verdade, não existe.
Ele é só o lado avesso da presença.
Mas, como hei de convencer a criança
De que ele não passa de uma sombra do arcaico?

Hoje, por desígnios de milênios,
Há um silêncio que expande a própria noite,
Feito elástico que só decorou plano de ida,
Momentos de vidas, eu sei, eles jamis voltam.

Imagino o reter o mundo no ponteiro dos segundos,

Mas, o rio é insistente no seu curso.
Águas se renovam, não os nossos rostos.


Nada há de garantia no cândido acalanto
De que o tempo é uma ilusão dos sentidos
Que só age nestes confins de nossa nebulosa.



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