sábado, 28 de setembro de 2019

LENDA DOS GATOS






Luis Martins da Silva

( Para Francis Moraes)



Eles viveram na lua,
Quando era Nova,
Numa fase do Éden,
Com almofadas e 
Pessoas carinhosas.

Por pressentimento,
Avisaram do fim,
Um grande cometa.
Lunáticos migraram,
Em naves para cá.

Os felinos amaram
A vida no Planeta.
E se achegaram a nós
No remoto aconchego
Morno das cavernas.

Tão evoluídos eram,
Não carecer de fala.
Miar, se necessário.
Linguagem ron-ron,
Meios tons quânticos.

Beijar, nariz-a-nariz.
Os deles molhados
E bem geladinhos.
E assim ninhadas,
Mundo de carinho.

Ideal, os banheiros,
Areia do solo lunar.
Mas, dos rios serve.
Rios, e gatos origem
Nas montanhas de lá.




quarta-feira, 10 de abril de 2019

AMOR DE ORAÇÃO




LUIZ MARTINS DA SILVA
Uma sinfônica pode 



E tem autoridade para



Extenuar as pálpebras do mundo.

Mas, com a ternura dos suaves rios,

Esboça os sorrisos de quem sabe

Mover com doçura as notas por serem anotadas.

Olha para um trigal,



Vê como ele se arruma,



Desfiando, um a um, os acordos com a brisa.

Como, afinal, afinar o tom dos salmos?

Mãos quase apalpam metais e acariciam pendões:

Reverências para com o Senhor das safras.

Anda, acorda!



Os cães, as aves, os felinos…



Já estão atentos a um recital de murmúrios.

As águas mansas tangem aluviões com os violinos,

Avisam que a canção se tornou hino,

É tempo de acelerar os corações.


fotografia mundo net

domingo, 25 de novembro de 2018

SOLFEJO FELINO


LUIZ MARTINS DA SILVA


Não é todo instinto,
Quando me sonda,
De longe, pelos bigodes.
Faço,o que posso,
O lema ao meu alcance.

Por instante diário,
Nariz, com nariz,
O meu, vapor.
O dele, molhado,
Cais de estranhamento,
intimidade de poucos segundos.

E já se vai para um outro meridiano.
A indiferença cartesiana.
Por mais geometria não sabida,
Ron-ro-nam, ressonam,
Esses bichanos!

Não estão nem aí,
Se se fecha ou abre
A cortina, o pano.
Se é mês, dia ou ano.
Tudo é um todo, sem data.

Por vezes, se fazem.
Vegetal ? batata?
Fácil serem, num sofá
Um esparrama, 
Ópio das horas.


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

FINADOS, QUEM?



LUIZ MARTINS DA SILVA
[Para a cisma, de Batista Filho
sob a íris de Van Gogh]



Então, cismei.
Vêm aí, finados.
Mas, fim de que?
Quem morreu?

De memória, sei.
Mais ainda são.
Os vivos e contritos.
O amor não se despede.

Viver é em navegações.
É do amor o ajuntar mais.
Quem ama cansa, não se cansa.
Pacto de querer bem, além.

O amor é  uma deixa.
Segue pausa, numa caixa.
Carregamos, é fato, seis alças:
Teu fúnebre poema-andor.

Em cova ou ao creme, tanto faz.
Em breve, em breve seremos, serenos paz.
Numa mesinha de cimento continuaremos
Aquela partida besta de dominó?

Quem sabe faz a hora, ora faz.
Em geral, não se faz em um século.
Por isso, digo: curtam o algodão doce.
Fácil, volátil, colorido caleidoscópio.

Tela- Íriases, Vincent Van Gogh

domingo, 21 de outubro de 2018

NA PELE DE LUZIA


Luiz Martins da Silva

Para Suyan Mattos
[Com ilustração da Wikipedia PT]


Crânio de mulher, presságio!
Talismã reencantado.
Outra vez, memória, berços.
Nós mesmos entre os pedaços.


Revisitar o teu self
Desde seios fartos e abraços.
Mama África! Pródiga prole
Na América de mimos afros.


Reconhecer carícias,
Tato de minúcias, ossos.
Apalpar milênios, enigmas,
Até o leve sorriso, rosto.


Cabeça, fronte, pomos.
Nossa Mona, Mãe Luzia,
A se refazer de emendas:
Andanças, dança, Pangea.


Escombros de antepassados,
O país cambaleando.
No guichê da Emergência,
Luzia com a ficha do povo.

domingo, 23 de setembro de 2018

CHUVA DO CAJU


Luiz Martins da Silva


Todo ano há garantia
De fruta com chuva própria
Se as flores apontam vingas,
Não tardam os primeiros pingos.


Cajuzinho do Cerrado,
Depois de muito braseiro,
Exibe confiante, certas
Intuições de aguaceiros.


Chamam de cio da Terra,
Este instinto bem verdinho
De se ter hora marcada,
Compromisso de noivado.


Céu e Terra de acordo,
Logo, logo, um arco-íris
Será prova renovada:
Der paz entre homens e Deus.


Pintura- Adriano Santori

NEPAL, NEPAIS



Luiz Martins da Silva

Ai, de ti, Nepal,
Logo, tu e os teus,
Na reverência aos budas,
Cerimonial de escombros.

Imaginei e indaguei,
Por que não eu,
Vivente errante, filisteu,
Certamente, indigno.

O mundo acode a ti
E aos teus em compaixão,
Hoje, toneladas em aviões,
Amanhã, tuas crianças, quem dera.

Tão cedo monges,
Tão cedo sutras,
Récitas de agradecimento,
Mesmo ao terremoto.

Moto contínuo, perpétuo,
Não sendo aqui o Nirvana,
Tudo ilusão, segue o mantra,
Mas, é mais que nosso umbigo.

Obrigado, Deus, ao Nepal,
Obrigado Deus pelos amigos,
Obrigado, Deus pelos antepassados,
Obrigado, Deus por sermos filhos teus.

domingo, 2 de setembro de 2018

FOLHAS AO CHÃO

( fotografia Danae Stratou,do site www.namu.com.br)


Luiz Martins da Silva


Esquinas avançam.
Algumas, é sério, soluçam.
Degraus, um a um,
Esperam a sua vez
Nas dobras do lá
.

Não há nota perdida.
Pessoas e melodias marcam.
São pétalas secas.
Papel-bíblia de orquídeas,
Salmos para reverências.

Hoje, não me saúdem.
Prefiro um estádio de vaias.
O feio dos tentos não feitos.
Anotem em cartões
Cada falta que fizemos.

A gente dá meia-volta;
Corridinha disfarçada;
Ponta de riso amarelo.
Foi mal não ter estado atento
Quando você mais se lembrou.

Ora,pois,festejemos. 
Agora, cada minuto 
Pois a espiral da elipse
Gastou o luxo dos lapsos. 
Restaram  as rugas, relógio de sol.

ASSOVIO NO ESCURO







Luiz Martins da Silva


De verdade,de verdade, não existe.
Ele é só o lado avesso da presença.
Mas, como hei de convencer a criança
De que ele não passa de uma sombra do arcaico?

Hoje, por desígnios de milênios,
Há um silêncio que expande a própria noite,
Feito elástico que só decorou plano de ida,
Momentos de vidas, eu sei, eles jamis voltam.

Imagino o reter o mundo no ponteiro dos segundos,

Mas, o rio é insistente no seu curso.
Águas se renovam, não os nossos rostos.


Nada há de garantia no cândido acalanto
De que o tempo é uma ilusão dos sentidos
Que só age nestes confins de nossa nebulosa.



segunda-feira, 19 de junho de 2017

O FOGO É FADO



 [A propósito de uma foto do Diário de Notícias]
Luiz Martins da Silva

Quando os fogos ateiam línguas,
Dialeto das labaredas,
Por vezes, de causas irônicas,
A imprevisível trama dantesca,
Próprias da cena britânica,
Ou do fado português...


O que querem de nós as chamas,
Quando, na fuga, o fulgor
Não sai a soneto, Camões,
Nem prece de Shakespeare?
Por vezes, o fogo é fato,
Midiático antes do luto.


Oremos, por nós, ingleses,
Franceses, alemães, brasileiros...
No incinerado das cinzas
Que que até há pouco eram sonho
E, hoje, nem de perto sombra
Do que chamamos de nada.


Tudo de nós é sofrer,
Pelo que herdamos na distância
E que honraremos na saudade;
Na memória dos que desde a infância
Fizeram com sangue, suor e lágrimas
Mais por nós do que por eles.

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