segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

ÁLBUNS




Luiz Martins da Silva

À memória de Ney Fernandes

Poses antigas,
Revelações químicas,
Recheio de gavetas,
Museu de nós mesmos.

Mas, lá em casa,
Por vezes, à mesa,
Alguém se apresenta
Dourando passados.

Eles querem relatos,
Mais que retratos,
Fotos de lembranças.
E até dão palpites:

Não vendam a casa!
Cuidem das roseiras!
Não digam bobagens!
Não falem asneiras!

Alguns foram cedo,
Outros, nem tanto.
Alguns, pelo jeito,
Só irão sem dentes.

Todos, sementes;
Sobrenomes em árvores.
Alguns viram mangas;
Outros, abacateiros.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

QUARTA FEIRA DE CINZAS




LUIZ MARTINS DA SILVA




Hoje, mais além de mim meu coração;
Mais areia que lágrima, sangue e osso;
Já não me estranha qualquer pergunta vossa,
Nem mesmo sobre o que ainda possa ou não.

De preferência, alegorias e metáforas;
Jeito de quem, na incerteza se embaraça;
Divide-se de fato o Céu em sete planos,
Desde a reles Terra até o teto do Nirvana?

Sou, hoje, o justo, mas que auto se proclama;
Não por mérito, mas de zelo por excesso;
Na dúvida do sensato: ser pai, filho ou irmão.

Palpite de quem preza o impossível;
Plausível, porém, n’outra alucinação:
Antes pássaro, do que alto do chão.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

FOLIÕES







LUIS MARTINS DA SILVA



Agora,  sim, chegou a vez do bloco dos sujos.

E pela fresta de um esquálido vitrô.

Um interno se alui, na ponta dos pés,

A tirar proveio de uma nesga de esplendor.


Inveja a sorte daqueles alucinados:

Desfilar sem trela o que bem lhe vier `a telha,

Sem vergonha de se revirar no exagero,

Cada um na posse de seu pequeno diabo.


Ali, onde se acha por prudencia e laudo,

Sequer um tambor, um clarim qualquer

Sinais, de fato do burlesco que se é.


Lá fora, sim, o direito de se dar ao luxo,

De ser o outro em máscara e estrupício,

Sem ser enjaulado por conta de um delírio.



Fotografia- bloco das virgens- correio do nordeste

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