domingo, 25 de novembro de 2018
SOLFEJO FELINO
LUIZ MARTINS DA SILVA
Não é todo instinto,
Quando me sonda,
De longe, pelos bigodes.
Faço,o que posso,
O lema ao meu alcance.
Por instante diário,
Nariz, com nariz,
O meu, vapor.
O dele, molhado,
Cais de estranhamento,
intimidade de poucos segundos.
E já se vai para um outro meridiano.
A indiferença cartesiana.
Por mais geometria não sabida,
Ron-ro-nam, ressonam,
Esses bichanos!
Não estão nem aí,
Se se fecha ou abre
A cortina, o pano.
Se é mês, dia ou ano.
Tudo é um todo, sem data.
Por vezes, se fazem.
Vegetal ? batata?
Fácil serem, num sofá
Um esparrama,
Ópio das horas.
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
FINADOS, QUEM?
LUIZ MARTINS DA SILVA
[Para a cisma, de Batista Filho
sob a íris de Van Gogh]
Então, cismei.
Vêm aí, finados.
Mas, fim de que?
Quem morreu?
De memória, sei.
Mais ainda são.
Os vivos e contritos.
O amor não se despede.
Viver é em navegações.
É do amor o ajuntar mais.
Quem ama cansa, não se cansa.
Pacto de querer bem, além.
O amor é uma deixa.
Segue pausa, numa caixa.
Carregamos, é fato, seis alças:
Teu fúnebre poema-andor.
Em cova ou ao creme, tanto faz.
Em breve, em breve seremos, serenos paz.
Numa mesinha de cimento continuaremos
Aquela partida besta de dominó?
Quem sabe faz a hora, ora faz.
Em geral, não se faz em um século.
Por isso, digo: curtam o algodão doce.
Fácil, volátil, colorido caleidoscópio.
Tela- Íriases, Vincent Van Gogh
domingo, 21 de outubro de 2018
NA PELE DE LUZIA
Luiz Martins da Silva
[Com ilustração da Wikipedia PT]
Crânio de mulher, presságio!
Talismã reencantado.
Outra vez, memória, berços.
Nós mesmos entre os pedaços.
Revisitar o teu self
Desde seios fartos e abraços.
Mama África! Pródiga prole
Na América de mimos afros.
Reconhecer carícias,
Tato de minúcias, ossos.
Apalpar milênios, enigmas,
Até o leve sorriso, rosto.
Cabeça, fronte, pomos.
Nossa Mona, Mãe Luzia,
A se refazer de emendas:
Andanças, dança, Pangea.
Escombros de antepassados,
O país cambaleando.
No guichê da Emergência,
Luzia com a ficha do povo.
domingo, 23 de setembro de 2018
CHUVA DO CAJU
Luiz Martins da Silva
Todo ano há garantia
De fruta com chuva própria
Se as flores apontam vingas,
Não tardam os primeiros pingos.
Cajuzinho do Cerrado,
Depois de muito braseiro,
Exibe confiante, certas
Intuições de aguaceiros.
Chamam de cio da Terra,
Este instinto bem verdinho
De se ter hora marcada,
Compromisso de noivado.
Céu e Terra de acordo,
Logo, logo, um arco-íris
Será prova renovada:
Der paz entre homens e Deus.
Pintura- Adriano Santori
NEPAL, NEPAIS
Luiz Martins da Silva
Ai, de
ti, Nepal,
Logo, tu
e os teus,
Na
reverência aos budas,
Cerimonial
de escombros.
Imaginei
e indaguei,
Por que
não eu,
Vivente
errante, filisteu,
Certamente,
indigno.
O mundo
acode a ti
E aos
teus em compaixão,
Hoje,
toneladas em aviões,
Amanhã,
tuas crianças, quem dera.
Tão cedo
monges,
Tão cedo
sutras,
Récitas
de agradecimento,
Mesmo ao
terremoto.
Moto
contínuo, perpétuo,
Não sendo
aqui o Nirvana,
Tudo
ilusão, segue o mantra,
Mas, é
mais que nosso umbigo.
Obrigado,
Deus, ao Nepal,
Obrigado
Deus pelos amigos,
Obrigado,
Deus pelos antepassados,
Obrigado, Deus por sermos filhos
teus.
domingo, 2 de setembro de 2018
FOLHAS AO CHÃO
( fotografia Danae Stratou,do site www.namu.com.br)
Luiz Martins da Silva
Esquinas avançam.
Algumas, é sério, soluçam.
Degraus, um a um,
Esperam a sua vez
Nas dobras do lá.
Luiz Martins da Silva
Esquinas avançam.
Algumas, é sério, soluçam.
Degraus, um a um,
Esperam a sua vez
Nas dobras do lá.
Não há nota perdida.
Pessoas e melodias marcam.
São pétalas secas.
Papel-bíblia de orquídeas,
Salmos para reverências.
Pessoas e melodias marcam.
São pétalas secas.
Papel-bíblia de orquídeas,
Salmos para reverências.
Hoje, não me saúdem.
Prefiro um estádio de vaias.
O feio dos tentos não feitos.
Anotem em cartões
Cada falta que fizemos.
Prefiro um estádio de vaias.
O feio dos tentos não feitos.
Anotem em cartões
Cada falta que fizemos.
A gente dá meia-volta;
Corridinha disfarçada;
Ponta de riso amarelo.
Foi mal não ter estado atento
Quando você mais se lembrou.
Corridinha disfarçada;
Ponta de riso amarelo.
Foi mal não ter estado atento
Quando você mais se lembrou.
Ora,pois,festejemos.
Agora, cada minuto
Pois a espiral da elipse
Gastou o luxo dos lapsos.
Restaram as rugas, relógio de sol.
Agora, cada minuto
Pois a espiral da elipse
Gastou o luxo dos lapsos.
Restaram as rugas, relógio de sol.
ASSOVIO NO ESCURO
Luiz Martins da Silva
De verdade,de verdade, não existe.
Ele é só o lado avesso da presença.
Mas, como hei de convencer a criança
De que ele não passa de uma sombra do arcaico?
Hoje, por desígnios de milênios,
Há um silêncio que expande a própria noite,
Feito elástico que só decorou plano de ida,
Momentos de vidas, eu sei, eles jamis voltam.
Imagino o reter o mundo no ponteiro dos segundos,
Mas, o rio é insistente no seu curso.
Águas se renovam, não os nossos rostos.
Nada há de garantia no cândido acalanto
De que o tempo é uma ilusão dos sentidos
Que só age nestes confins de nossa nebulosa.
Assinar:
Postagens (Atom)