sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

FELIZ ANO NOVO, POVO




LUIZ MARTINS DA SILVA

Melhores dias para a vida silvestre.
Desmatamento zero para as florestas.
Paz às nascentes cristalinas.
Que não se atordoem El Niño e La Niña.

Que Yang e Yin saibam conviver
Lado a lado como o Não e o Sim,
No respeito de cada um no seu ser
No saber de si quando outro.

Um ano sem agrotóxicos,
Pois, já não serão mais aceitos.
Quem ama não envenena
Nem aos seus nem à paisagem.

Um ano de belas imagens
E que os tiranos não tirem
O sossego das crianças
Em nome de suas manias.

Seja um ano abençoado:
Vegetais, animais, pessoas...
E que toda a tecnologia
Sirva de êxtase à estética.

Que as imagens de satélite
Registrem vida inteligente
Dentro de nós e no trânsito
Interestelar das ideias.

Que neste ano de pão
Não falte o olhar de irmão
Para quem está sem mesa
No lar comum, Natureza.





sábado, 26 de novembro de 2016

ADEUS, DESERTO














O deserto, outrora imagem;
Ícone sem ramagens;
Românticas dunas,
Desde tâmaras a espinhos;
Travessia de arquétipos;
Mitos retornando dos encantados
O deserto, outrora sublime
Recôndito incônscio do silêncio maior,
A solidão estrelada dos crescentes bordados.
Eis, ainda, lá, no profundo recolhimento,
Acocorados e inertes, as almas em descanso
Ao conforto dos chocalhos e à tentação do cochilo.
A ascética ração, o pernoite dos dromedários.

Que imagens de se ver, agora, nas telas externas?
Para onde foi todo aquele telos de narrativas,
Caravanas de aventuras, panes literárias?
Em algum lugar se esconde um Pequeno Príncipe.
Mas, Maquiavel à solta, bombas e estilhados de corpos.
Blindados, tropas, massacres, simulacros de lutas.
E as cafetinas a rondar donzelas, mentindo sobre dotes.

Como se refugiar em algum jejum profético?
Pedras são atiradas feito pães,
O ópio messiânico das ideologias.
Covardes, rugem os leões.
Eles não reconhecem bandeiras e nações.
Desdenham até das cruzes vermelhas
E dos anjos, altruísmo sem fronteiras.

Restaram-me as lendas do céu e da terra,
O deslumbre menino de um Malba Tahan,
Crédulo de que após uma carícia messiânica
Será re-costurado um arco-íris de aliança,
Que ainda pende do fiapo de uma túnica
Desta senhora pomposa em erudição e rendas.
Seu nome, ainda reverente, às vezes atende: Justiça.

LUIZ MARTINS DA SILVA

domingo, 13 de novembro de 2016

FLAN


Luiz Martins da Silva


Se eu passar por você

E não der fé  ( flauner)


Perdoa o tropeço


De quem vive no espaço.


Da série "Haiquadras"

domingo, 9 de outubro de 2016

AS DUAS CASAS





LUIZ MARTINS DA SILVA


A casa,
Já não é a mesma,
Da planta original,
Tantos acréscimos e adaptações.

Por fim, parei, desisti, ao descobrir:

Casas são projeções de um espaço mental.
Com seus labirintos de uma vida para dentro
E de tudo que nos habita em aposentos folhados.

Não tarde descubro, meu coração é só o âmago

De um universo de memórias e pulsações,
De uma história afetiva que emenda retalhos de tempos
Num cerzir constante de apreender amores.

Agora, estou mais leve,

Por saber das casas,
A de fora, concreta, finita.
A de dentro, autoconstrução interminável.

Agora, posso dormir,

E até acordar, tanto faz.
Já não me circunscreve aquele espaço
Aonde, indevidamente, escrevem: “Jaz”.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

SOBRE O SÓBRIO






LUIZ MARTINS DA SILVA



Mentores, há creio.
Um Gandhi, um Tagore.
Pessoas, Borges, Barros, Coras,
Adélias soltas pelos prados
Quais margaridas-borboletas.



QUEREM UM POUCO DE ESCRITA
Afinal, mesmo lá de seus repousos
Ainda insistem, consistem e persistem,
Pois, se perderem as mãos físicas, agora,
Escrevem com asas, arcanjos de sopros,
Não de trombetas mas toques sutis.


NÃO SEI PORQUÊ,  GOSTAM DESSES BRASIS

E dos brasileiros herdeiros que somos
No amor, no susto, no surto e no surf
Sobre estas ondas do perigo do fácil,
Mas, como disse um certo Fernando
Se ao mar o perigo deu, nele é que espelhou o céu.


COM O SEU DA BOCA SOLETRO NUVENS

E, mesmo no lugar comum dos carneirinhos,
Eu os reúno qual pastor que mais se aconchega
Na calorosa lã das confiantes ovelhas,
Que também acreditam numa centelha,
Faísca da coragem de nem saber do depois,
Mas, o quanto antes, andante, tropo, topo
Estamos,  sim, no mesmo rumo, ainda esboço.



domingo, 4 de setembro de 2016

APELO AO GRAMADO






Luiz Martins da Silva




Quando vieram os que por aqui chegaram

E ganharam de apelido os forasteiros, candangos,



Eu vi surgir na savana um outro mar,


Não de alagar, não de aportar, de contemplar.


Do alcance do pé à miragem do horizonte,


Do azul esfuziante ao vermelhão do óxido,


Por fim o tapete exótico rebrotou


E, com ele, as placas do civilizado aviso:


Não pise! Agora, é reverente flama.



Tão farta verdura por que não é pasto?


Se não vereda, que sertão é lastro?


Outrora convidados, agora, palácios


Cercados de capim, chique e tosado.


Roça agra, mas de não sortir roçado.



Hoje, no retrato ainda bem vindos,


Celebrados pioneiros, mas por ora piotários.

Severinos, venâncios, paus-de-arara.


Em que diferem pessoas quando olhamos


E o que vemos, gravatas e formulários?



De almas limpas, avós no calendário,


Mal sabiam das pranchetas o traçado.


Afinal, em vastidão de pouca esquina,


Quem faz conta de rastro em labirinto?


Que instinto orienta o minotauro?



Que viva mais quem no verde faz divisa,


Tal o ornamento do chão na modernidade.


Da bola entre as linhas ergueram-se os louros


Desde esse cogito olímpico em que somos 

campeões.


Todos à rega! Um dia, por baixo, descansaremos.


Fotografia- Alberto Ferreira

sábado, 30 de julho de 2016

BRASILEIROS OLÍMPICOS



LUIZ MARTINS DA SILVA


Desde um Brasil, remoto ainda tupi,
Já éramos campeões, aqui.
Bravos, guerreiros, de sempre,
Batalhas sem medalhas.

Tudo que se fez foi resistência,
Desde uma prévia existência
Aos que já vieram brasileiros
E, outros, brasilienses.

Contra a fome, contra a febre,
Contra a fera, contra os nomes
Impostos, mas não depostos.
Há os que já chegam impondo.

O Brasil,  para inglês ver.
Agora, dever para os australianos.
Acabamos por descobrir:
O autrolopitecus é daqui.

Num solo tão rico de rios
Não riam do Rio, que é de  tanto riso.
De janeiro a dezembro, quanta alegria,
Dançando e se virando, nas tintas.

Hoje esta música, vai para Dona Olímpia,
Que acorda as quatro e trinta
Prepara marmitas e destino.
À noite, volta aos pequeninos.

Recordistas somos aos milhões,
Sob o calor do batente, medalha de cobre.
Quase 300 nações, aldeias sem porte de vila.
Outrora, foi Vila Rica. Por ora, modesta, mais Olímpica.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

KALACHNIKOV




Luiz Martins da Silva

Toda fé, feérica e violenta

Perde o sentido que a sustém


O que se fina na segurança


De quem com fé, não se falha.


Morte, nem para as humildes folhas


Até os micros seres têm alma;


De alçar voo, por conta própria.


Sem que ninguém os acelere, 


A caminhão, ou a Kalachnikov.


domingo, 10 de julho de 2016

UM VELHO BARCO



LUIZ MARTINS DA SILVA


Um velho barco

Longe da areia


Triste lirismo de imagem


Outrora motor, correia


Hoje lagartixas e ferrugem


Por insistência ainda o rabisco


Aguada, pincéis; ouço gritos:


Firme na rede Quanto peixe!


O mundo é memória, tinta e letras.



quarta-feira, 29 de junho de 2016

O LUGAR AVESSO DO EGO




Luiz Martins Da Silva

Chego a ter ciúmes dela,
Mas, nem aí para mim.
Ocorre que corre quando,
toda vez que vou a si.

Self, tipo evanescente,

A custo da mesma foto,
Eu, presente, ela, esguia;
Nunca, jamais, à frente.

É a minha sombra, fulana.

Nem sei que nome ela tem.
Inseparável, muito mais
Comigo, do que mais alguém.

Nunca lhe havia bola,

Mas nem bela, ela tem.
Até mesmo quando embora,
Eu vou, ela vem também.

sábado, 18 de junho de 2016

FEIRAS



LUIZ MARTINS DA SILVA


Primeira- Domingo

Dia de ir à feira, apalpar as frutas,
Apalpar amostras, comer um absurdo;
Sacolas para a semana inteira:
Mas, não era dia de missa?


Segunda

Dia de nenhum calendário

De qualquer rei que se preze.

Quem sabe, algum príncipe , princípio.

Mas a qualquer indício, reze.



Terça

Dia de ir ao banco, agendar contas,

Tirar o saldo, e chamar por um santo:

Nossa Senhora! Mas há de vir a hora

Do bolão, por enquanto sonho,  balão.



Quarta

Dia de ligar para os filhos

Parece que nasceram ontem,
Mas, como cresceram!
Quem sabe, algum dia netos


Quinta

Mas, como de novo às compra

Não, sim ; é que faltou uma coisinha.

Mas, tão cheio, o carrinho;
Não será desperdício?


Sexta


A mais santa de todas as feiras,

A do cansaço, o que era gente,

Agora, é só o bagaço da bagunça,

Manter-se em pé e humano.


Sábado

O único dia não santom mas, calma

A atolar o pé na jaca, até para a manha

Há de haver um decoro, pois , senão amanhã
não será domingo, mas um pingo (de) alma.








segunda-feira, 13 de junho de 2016

ALGUM LOBO ESTÁ SOZINHO ?



LUIZ MARTINS  DA SILVA


Nenhuma luta será vitória
Se o fruto for o luto
Ainda que em nome de Deus
Nenhuma violência rimará
Senão com a demência.

Nenhuma alegria será plena
Se a alguém infligir alguma pena.
Lembra-te: todas as tuas ações
Retornarão a ti, aos teus corações
E a tudo que for por ti amado.


Não é praga, é a lei da Paz.

Só a quietude da mente límpida

Sinaliza o caminho do Olimpo.
Que lobo ou matilha serão acolhidos
Com o sangue da covardia em suas garras?

Ilusão, essa de que o outro não somos.
Ódio a quem quer que seja é miragem,
E esconder na estrada o caminho do avesso.
Que coragem é essa
Bravura de armas
Contra os que só querem uma festa?

domingo, 5 de junho de 2016

ESCADARIAS







Luiz Martins da Silva

Cada um irá, aos seus e aos céus.
Mas, na entrada, nada
Se apresenta que não seja
Da flor que viceja
No jardim do Bem.

A entrada é sem posses,
Vaidade sem pose,
Poder sem posto,
Moeda sem cofre,
Lastro de bondades.

Nada se compra,
Mas, há de sustento
Para justos e inocentes.
As fortunas daqui, nada ali
A valer, a não ser, retidão.

Alguns, arrebatados,
Em carruagens velozes.
Mas, nem todos Elias.
Então, caminhar estradas,
Degraus de belezas.

Ser simples,
Nem é tão longe.
Quando se vê, já é termo:
A senha é só o amor,
Essa forma de cultivar o eterno.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

HOMENS ?




Luiz Martins da Silva

Homens? Com que nexo?
Mesmo animais bem o sabem
Estupro não é sexo
E nem feras se fartam assim.

Rio, meu Rio, cidade maravilhosa?
Desde ontem, não sei que prosa,
Autoriza-me versos sobre a vida.
Em que pódio, em que olimpíada?

Esta vergonha, nem sei porquê
Também atinge a mim.
Afinal, sou filho, sou pai;
Irmão, tio, padrinho.

Um dia, andaremos juntos, sem medo.
Pois, até o leão e o cordeiro estarão unidos.
Homens, do mundo, hão de aprender:
Só o consentimento ampara o prazer.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

REDES




LUIZ MARTINS DA SILVA



A rede é minha nave,

Minha flor de lótus



Desde este barco, medito.

Melhor, cismo sobre sentidos:

Da vida, do amor, da morte.

Ou mesmo desse abismo, o nada.






Por muito tempo suposto

Artefato indígena, sertanejo,

Agora (parte de varandas)

Descubro, não tarde,

De dia ou pernoite,



A rede é cósmica.



Receita de rede ( I ):

Convém armá-la, fora,

Sujeita a tempo e temperatura.

Muda literatura, de pensamentos.

Companhia de trinados e vento


Receita de rede ( II ):

Convém amá-la, nela.

Amor vivíparo de pares

Ninho de prole de estrelas.

Relendo o relento ao céu,

Nus seremos artesãos.



Desde a primeira volta

E e o Gagarin

Anacoretas bebendo licor

E fazendo perguntas embaraçosas.

Ele, ateu. Eu, a Deus.



Em cada um de nós uma rede flutua

A rede, enfim, indiferente,



Não serve de galho a pouso.





segunda-feira, 2 de maio de 2016

ORDEM [e PROGRESSO]




LUIZ MARTINS DA SILVA


Nem toda obediência estará
Ao dispor. Há, sim, uma Ordem
Superior, do Universo, para que possas
Encontrá-la reflexa numa poça.

Ordenha, um a um todos os seus medos,

Em segredo, voláteis e imaginários.
Cuidado, podem ser fátuos cálculos:
Dívidas, dúvidas, bílis e oxalatos.

Nem todo rei, reina por cetro e coroa.

Finalmente ao trono, sonhos e miragens.
Reis, tantos: do iê-iê iê, da Soja,Roberto,  Pelé...
Rainha, Dos baixinhos, da sucata... Caminhoneiros.

Greta Garbo, quem diria chegou à Presidência:

Do clube, do condomínio, do Parlamento...
Distinguir os sinais do horizonte.
Acaso são palácios firmes residências ?


Ser humilde, é só mister estelar.

Saber-se mínimo e remoto fulgor.
Improvável bordar-se em bandeira.
Extenuado, respira, deixa estar.

O porvir é atrair providências.

Aras, desde livros e provérbios.
Todavia, brasão e lema
Inscrevem-se é em si mesmo.

Quem sabe, melhor porto,

Manter-se do logo a distância.
Que pode servir de mais conforto,
Senão estar longe da inveja e da rapina?








.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

NOS EMBALOS DO VENTO





LUIZ MARTINS DA SILVA


Agora, que embalam ventos,
Ingressos também no deleite.
Todo molde ao devaneio
Mas, no direito de sonhar.


Quero sim o vento puro,
Não o vento-mercadoria.
Quero o vento e o ventres
Livres, sem códigos de barra.


Quero o vento das marés
E até podem exortá-lo,
Mas, para os mares da Lua,
De ondas tão rarefeitas.


Quero moinhos quixotes,
Movidos a pás de ventos,
Mas, quero é vento nas ventas
De pássaros e pipas no ar.


Nosso, Drummond uma vez,
No tempo, do bem declarado,
Foi fazendeiro no ar,
Nas brisas de bem amado. 


Sem vento, sequer há vida,
Suspiros, de bem querer.
Haja vista a tanto vento
Mas de dar; não de vender.


Se for o caso de engano,
Me tirem o cisco do olho,
Com um sopro bem aplicado,
Mas, comprar vento, negado.


Carece mas é cuidado,
Dádiva de Deus para todos.
Que vivem, de respirar
O ar que já veio dado. 


Fotografia em movimento: cinemagraf por BUKARENO do site:   
http://supercomentario.com.br/2011/09/12/foto-em-movimento-parado-mas-se-mexendo/

Translate

Total de visualizações de página