sábado, 29 de abril de 2017

HAICAIS FELINOS




Luiz Martins da Silva
Para Luisa Ataide


Cisma a verdade
Com o olor inodoro
Do simulacro de antiquário.



Brinca a menina com o mimo
De narizinho molhado
Que não se sabe urso, de colo.



Tocata a solo,
Colcheias de miados.
Carimbos no assoalho.



Um dia, talvez, 15 anos,
Velho o bichano,
De tanto dormir.



De dia, ficar.
De noite, sumir.
Aliado da lua.



Bicho de rua,
Teto emprestado.
Um cio, e já não vale nada.



Vão-se os pelos
Pela vida afora.
Chegará a hora, sem mais nem menos.



Por si só, elefantes.
Ninguém lhes sabe o sumiço
Quando do sétimo graal.

domingo, 9 de abril de 2017

POSTAIS







LUIZ MARTINS DA SILVA



O amor é  um abstrato plural


Que mora em um supor de nós,


Mas não é que interroga concretudes,


Teimando sabores reais ?


Existem amores antipáticos,


De almas que desejamos telepáticas


Que fiquem nos caminhos da História.


Mas, os mais remotos reclamam memórias.


E o que dizer para nós mesmos,


Quando na revelia do esquecimento,


Eis que nos aparecem, argamassa, cola,


Grudados na nossa própria sombra ?


Sobretudo os que juram nunca mais


Até parecem, combinam


Cruzamento de horizontais e verticais,


Desses que nascem e declinam para além de trás os montes.


Mas, nada melhor do que um dia atrás da noite,


]Para que retornem ao abrigo sentimental de sempre:


Gavetas que se abrem sozinhas,


Arquivo art-déco, museu de pessoas da gente.


[Da série proemas em prosa]


sábado, 1 de abril de 2017

A MONTANHA PERECÍVEL





[Decalque sobre obra de Leonilson,
Desde a “capa” de Suyan de Mattos]


Luiz Martins da Silva

Porquê montículo de areia,
Sobre a praia de brinquedo,
A criança espera a vida
E ainda bem que não atina
Que as duas, montanha e vida,
Laváveis, leváveis, louváveis.

Tão reduzida a pó,
Não era, então, a auto-estima
De saber que de tão leve
A vida parece e é
Real, mas, como flutua
Entre o mar e o céu acima.

Linda, a nacionalidade
De não se saber nessa idade
Quão invertida é a sina
De a criança crescer
Desejando que o tempo
Seja só, na montanha, um uivo.


Preto, branco, tinto, ruivo,Amarelo, nipo, sino...

Pouco importa com que roupa.
Que bobagem, sabe Deus,
Ora de botar na bagagem,
Nossa memória num adeus.

Translate

Total de visualizações de página