domingo, 4 de setembro de 2016

APELO AO GRAMADO






Luiz Martins da Silva




Quando vieram os que por aqui chegaram

E ganharam de apelido os forasteiros, candangos,



Eu vi surgir na savana um outro mar,


Não de alagar, não de aportar, de contemplar.


Do alcance do pé à miragem do horizonte,


Do azul esfuziante ao vermelhão do óxido,


Por fim o tapete exótico rebrotou


E, com ele, as placas do civilizado aviso:


Não pise! Agora, é reverente flama.



Tão farta verdura por que não é pasto?


Se não vereda, que sertão é lastro?


Outrora convidados, agora, palácios


Cercados de capim, chique e tosado.


Roça agra, mas de não sortir roçado.



Hoje, no retrato ainda bem vindos,


Celebrados pioneiros, mas por ora piotários.

Severinos, venâncios, paus-de-arara.


Em que diferem pessoas quando olhamos


E o que vemos, gravatas e formulários?



De almas limpas, avós no calendário,


Mal sabiam das pranchetas o traçado.


Afinal, em vastidão de pouca esquina,


Quem faz conta de rastro em labirinto?


Que instinto orienta o minotauro?



Que viva mais quem no verde faz divisa,


Tal o ornamento do chão na modernidade.


Da bola entre as linhas ergueram-se os louros


Desde esse cogito olímpico em que somos 

campeões.


Todos à rega! Um dia, por baixo, descansaremos.


Fotografia- Alberto Ferreira

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